Segundo estudo de investigador do Karolinska Institute na Suécia, o exercício físico ajuda a limpar o organismo de uma substância tóxica responsável por sintomas depressivos.
Entidades médicas há vários anos defendem os benefícios do exercício físico no combate à depressão causada pelo stress, contudo, não se compreendia de que forma ocorria esta proteção.
A investigação liderada pelo farmacologista Jorge Ruas vem mostrar o mecanismo por detrás deste fenômeno. O estudo foi publicado na revista Cell.
A equipe do Karolinska Institutet (Suécia) revelou que o exercício físico induz :
- Uma alteração nos músculos esqueléticos (aqueles que estão junto ao esqueleto) que ajuda a eliminar uma toxina que o sangue acumula nos momentos de stress e que prejudica o funcionamento do cérebro.
O investigador e a sua colega de investigação, a neurocientista Maria Lindskog, explicam que a proteína PGC-1a1, presente nos músculos esqueléticos, aumenta quando se pratica exercício físico.
No início da investigação, Jorge Ruas e Maria Lindskog acreditavam que estes músculos com proteína reforçada produziriam alguma substância que ajudava a combater a depressão. Mas após a investigação em ratinhos descobriram precisamente o contrário: a proteína PGC-1a1 ajuda a eliminar uma substância tóxica que o stress faz acumular no sangue.
Os investigadores usaram dois grupos de ratinhos: uns com a proteína dos músculos reforçada e outros com músculos “normais”. Os dois grupos foram expostos a situações de stress (ruído, flashes de luzes, e inversão do ciclo de sono).
Depois de cinco semanas de exposição a momentos de stress ligeiro, a equipe verificou que os ratinhos com menos PGC-1a1 tinham desenvolvido comportamentos depressivos, enquanto os outros ratinhos não mostravam estes sintomas.
Enzimas KAT eliminam substância tóxica
Os investigadores verificaram que os ratinhos com altos níveis de PGC-1a1 também tinham níveis mais elevados de enzimas KAT - capazes de converter uma substância que se forma durante os momentos de stress, a quinurenina, transformando-a no ácido quinurênico que não passa do sangue para o cérebro.
Os peritos ainda não sabem ao certo como atua a quinurenina no cérebro, mas a substância está ligada a estados depressivos e a outros distúrbios mentais.
“Este trabalho poderá abrir um novo caminho farmacológico no tratamento da depressão, sendo que o alvo terapêutico poderá passar a ser o músculo-esquelético em vez do cérebro. Este músculo parece ter um efeito de desintoxicação que, quando ativado, pode proteger o cérebro, diz Jorge Ruas no comunicado.
A depressão é uma das doenças psiquiátricas mais comuns. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, este distúrbio afeta cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo.
Quinurenina
A quinurenina e seus metabólitos participam de funções biológicas essenciais à sobrevivência, como a dilatação dos vasos sanguíneos durante os processos inflamatórios e a organização da resposta imunológica.
O aumento da produção de quinurenina pode precipitar sintomas depressivos. Seus metabólitos estão associados às deficiências cognitivas, às encefalopatias, à esclerose múltipla, aos tiques, ao metabolismo das gorduras, à demência pelo HIV e a outros distúrbios psiquiátricos.
O cortisol e outros hormônios liberados durante o estresse, e certos mediadores que participam dos processos inflamatórios, ativam enzimas responsáveis pela síntese de quinurenina, aumentando sua produção, seus níveis na corrente sanguínea e a presença no cérebro. Ao entrar no cérebro, a quinurenina é convertida em metabólitos que promovem estresse celular e interferem no comportamento.
Quando o estresse é acompanhado por exercícios físicos, as sucessivas contrações da musculatura promovem uma cascata de reações bioquímicas que levam ao aumento da produção de determinados enzimas (KATs), que se encarregam de transformar quinurenina em ácido quinurênico.
Ao contrário do composto que lhe deu origem, o ácido quinurênico é incapaz de penetrar a barreira que separa o sangue periférico do líquor, o líquido que banha o sistema nervoso central. Dessa forma, o cérebro fica menos exposto aos efeitos depressivos da quinurenina, portanto mais resistente ao estresse. Por essas razões, a atividade física deve ser incorporada às estratégias de prevenção e tratamento dos distúrbios relacionados com o estresse, como é o caso das depressões.
Com informações de : Boas noticias.pt - Carta capital